Shiko
Henrique Magalhães Desde a década de 1970, quando surgiram no cenário dos quadrinhos paraibanos alguns dos hoje renomados autores, a exemplo de Deodato Filho e Emir Ribeiro, não se tinha o lançamento de uma obra tão expressiva e inquietante. Shiko, ou Francisco José de Souto Leite, nascido em Patos em 24 de março de 1976, chega com suas histórias para provocar o leitor, levando-o necessariamente à reflexão. Seguindo o mesmo e exclusivo caminho dos jovens autores nacionais, Shiko buscou nos fanzines seu próprio espaço pra publicação. No final da década de 1990 editou o fanzine Marginal, do qual saíram oito edições. Algumas das HQ publicadas no fanzine deram corpo ao álbum Marginal, editado em 2006 pela Marca de Fantasia. Antes de se tornar um autor renomado no cenário dos quadrinhos nacionais – é dele, por exemplo, a releitura de Piteco, de Maurício de Sousa, bem como a adaptação do romance O Quinze, de Rachel de Queiroz – Shiko mostrou sua qualidade gráfica e textual no circuito independente, com trabalhos como Blue note e Lavagem, álbuns lançados em autoedição. Foi no espaço alternativo dos fanzines que o autor criou o ambiente para desenvolver sua obra com toda a liberdade e experimentação. Autoditata, Shiko armazena uma bagagem cultural invejável. Desde cedo lia os clássicos da literatura mundial, de Rimbaud e Baudelaire a Marx, com predileção por biografias. Esse ecletismo lhe proporcionou descobertas de mundos jamais imaginados. Além da leitura, mais três coisas lhe são essenciais: a música, o desenho e a rua. Da literatura e dos quadrinhos europeus captura as influências para seus quadrinhos. A música cria o clima para suas histórias, a cultura beat lhe serve de referência temática, a observação cuidadosa das ambientações da rua, dos hábitos, do vestuário, traz elementos que enriquecem seu universo ficcional. Shiko investiu também em artes plásticas e grafite, enchendo as ruas e muros da Parahyba com painéis de expressividade impar e com um toque político da cultura hip hop. Considera os quadrinhos europeus como o que há de melhor, pela densidade dos personagens e elaboração das histórias. Admira também a HQ japonesa, que consegue de forma excepcional dar ritmo e dinamismo em suas sequências e enquadramentos. Gosta de Frank Miller e da descontração dos quadrinhos ingleses. Aprecia o trabalho de Moebius. Dos quadrinhos nacionais, Watson Portela e Mozart Couto lhe são memoráveis. Dos roteiristas, destaca Gian Danton e José Duval. Desse caldo de tantas origens e tendências, confessa que sua maior influência vem mesmo dos quadrinhos nacionais. Shiko apresenta processos de produção diversos, dependendo da situação e dos condicionamentos para a criação. Em geral, tem uma ideia básica da HQ, que vai desenvolvendo gradativamente, rabiscando o roteiro ao mesmo tempo em que desenha os personagens. Às vezes faz um único desenho que o impressiona e a partir deste, passa à elaboração de uma história. A expressão poética dos quadrinhos de Shiko, repletos de referências e inspirações literárias associadas a um traço impressionista, faz de seu trabalho um oásis em meio a tanto pastiche produzido pelos jovens autores nacionais. Além de quadrinhos, Shiko produz story board, ilustração de livros e publicitária. Apesar do reconhecimento de seu trabalho no meio gráfico paraibano, com uma autocrítica aguçada, Shiko acha que seu trabalho está apenas começando, o que nos parece um ótimo sinal. Leia mais
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