Maria: queerlombola
Como cada um de nós, Maria resiste bravamente às crises que assaltam o dia a dia. Quando não são as questões econômicas a desestabilizar a vida ordinária, são as políticas, com a ameaça iminente do conservadorismo a tentar impor os costumes arcaicos. Acompanhar a atualidade não tem sido fácil, até mesmo para uma personagem de quadrinhos. Em vez de cair na amargura, Maria reage com humor. A acidez com que vinha enfrentando os dissabores quotidianos dos tempos recentes, enfim, dá lugar a uma visão crítica com mais leveza, com a sutileza de uma linguagem pretensamente poética. As tiras humorísticas permitem essa liberdade linguística. Diria mesmo que é a partir dela que se constroem as tiradas de humor que encantam os leitores. Neste volume, aqui e ali Maria, Pombinha e Zefinha voltam a falar de política, de forma mais abrangente e menos focada nos acontecimentos do noticiário. Mas a linha que conduz esta edição é mesmo a das relações humanas e suas múltiplas contradições, os embates afetivos entre as personagens, as reflexões sobre si. Um tanto de tiradas filosóficas - no sentido mais livre do termo - pontua algumas tiras, sempre com as ferramentas do lirismo, da poesia e do humor. Maria encaminha para as cinco décadas de criação - efeméride que ocorrerá em 2025 - com todo gás, com a vitalidade que se renova diariamente na observação fina das relações pessoais do autor e do contexto político e social que envolve inexoravelmente a todos.
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