Luzardo Alves
Paloma Diniz Luzardo Alves sempre foi gravador de objetos. Era antes de trabalhar com quadrinhos e continuou sendo quase toda a vida. Sua arte está em objetos mais palpáveis, gravado nos momentos importantes na vida de muitas pessoas. Através dos quadrinhos ele gravou na memória de muitos brasileiros, com suas charges e tiras, momentos da história do Brasil, da Paraíba e de João Pessoa.
Na década de 1960, Luzardo Alves apresentou-se na TV Jornal do Commércio de Pernambuco, onde de um coração desenhado por Cauby Peixoto fez a imagem do Amigo da Onça, no programa de TV de Fernando Castelão e Luís Geraldo. O fato chamou a atenção de Assis Chateaubriand, que acabou levando-o para o Rio de Janeiro para trabalhar na revista O Cruzeiro, junto a Péricles, criador do Amigo da Onça e Carlos Estevão, do inesquecível Pif Paf. No Rio, Luzardo conviveu com os mais ilustres nomes dos quadrinhos, da charge e do humor brasileiro, como Millôr Fernandes, Henfil, Ciça, Juarez Machado, Daniel Azulay, Jaguar, Zélio, Fortuna e Ziraldo, seu compadre, padrinho de batismo de sua filha. Foram seis anos cariocas na produção de tiras, cartuns, charges para as mais famosas revistas (além de O Cruzeiro, participou da Revista do Rádio, e dos jornais Correio da Manhã e O Dia). Também confeccionou arte para capas de revistas em quadrinhos destinadas ao público infantil, como Bolinha, Luluzinha, entre outras. De volta à Paraíba no início da década de 1970, pouco tempo depois da morte do proprietário da rede de jornais Diários Associados, Luzardo retomou o seu ofício de gravador e continuou a desenhar com seu humor salutar. Por meio do jornal alternativo Edição Extra, juntamente com Anco Márcio criou uma das personagens mais hilárias e irônicas dos quadrinhos paraibanos: Bat-Madame. Nessas histórias em quadrinhos de uma página, Bat-Madame fazia uma sátira escrachada de Batman e dos costumes da região. Apesar das menos de 20 publicações de página única, esta se tornou marcante para os leitores desse periódico e influenciou as gerações seguintes de chargistas e quadrinistas paraibanos.
Na sua banca de gravação de objetos, Luzardo fazia a Charge da Semana, um folheto patrocinado pelo Café São Braz e outros comerciantes, distribuído gratuitamente. Nessas charges havia um personagem chamado Pataconho, que representa um morador pessoense que faz análises e críticas das situações políticas, econômicas e sociais no período em que circulou pelo Ponto de Cem Réis, centro de João Pessoa, na década de 1970. Alguns problemas estruturais do cotidiano da cidade ainda se encontram registrados nessas charges. Ele continuou ainda a produzir a Charge da Semana e a fixa-la em numa banca de revistas no Ponto Cem Réis apenas para visualização e apreciação de seu mais recente personagem: Zé Boné. Em 2011 ele lançou um livro com várias charges intitulado Piadas Ilustradas, publicado pela editora local Sal da Terra. Continuava em atividade na imprensa publicando charges no jornal Já, da capital, quando faleceu em 17 de dezembro de 2016, com 84 anos de idade, por problemas cardíacos. Luzardo Alves gravou profundamente a alma dos pessoenses e dos brasileiros de forma tão marcante e firme, com graça, leveza e precisão igual ao que ele fez com a gravação em joias. Suas charges, quadrinhos, cartuns e tiras estão gravados em nossa memória e em nosso coração.
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