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O Memorial da História em Quadrinhos da Paraíba é um projeto de extensão e pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal da Paraíba

Edição:
Henrique Magalhães

Contato: henriquemais@gmail.com

Equipe editorial:
Paloma Diniz

Cobaloradores:
Cristovam Tadeu (detalhe de ilustração para o cabeçalho)

Criou-se em julho de 2013, com fluxo contínuo de atualizações.

Abril de 2016

   Publicações

Veneta

Com a veneta, Maria!

A personagem de história em quadrinhos Maria surgiu em julho de 1975, com produção de tiras não intensiva, mas constante. Já em 1976 saiu a edição de aniversário, revista que reunia boa parte das tiras produzidas. Em março de 1977 viria a revista Veneta número 1, com tiras de Maria realizadas nesse ano, mas renovando sua estrutura formal.

O formato convencional das tiras tem sentido horizontal, com um ou mais quadros, numa proporção aproximada de 1x3; 5cm de altura por 15cm de largura, por exemplo. Em Veneta, as tiras de Maria se transformaram em quadros, sendo dois retângulos superiores e dois inferiores, podendo ter variações no número de requadros, ou retângulos. Esse formato foi uma estratégia para facilitar a visualização das tiras, que se adaptaram ao formato da publicação.

Veneta era uma edição de bolso, como explicitado em seu logotipo, tinha formato de 10,5x15cm, o mesmo dos cartões postais, no sentido horizontal. A revista teve uma única edição impressa em offset, 20 páginas, sendo capas em duas cores e miolo em preto e branco. Contou com apoio de publicidade, uma da própria gráfica em que foi impressa e duas do comércio local, cujos proprietárias eram conhecidas do autor. Outra edição foi montada, mas não chegou à impressão.

Veneta tinha o propósito de ser uma publicação barata, com poucas tiras e produção rápida. Curioso que a revista não tenha se chamado Maria, já que se dedicava exclusivamente à personagem. É muito provável que, para Maria, tenha se reservado um projeto maior, uma revista mais encorpada, como de fato viria acontecer.


Crítica à indústria cultural na Veneta n. 1

Vê-se, em Veneta, uma edição de passagem para a personagem Maria, uma tomada de fôlego para as transformações que se vislumbrava para a personagem. Ainda centrada no tema da solteirice, Maria, nessa edição, continua a perseguir sua busca por um marido, que se pode traduzir pela fuga da solidão. Contudo, não passa despercebido nas tiras o início de viés crítico, em particular dirigido ao imperialismo cultural estadunidense e à indústria cultural como um todo, com ênfase na televisão.

Lendo a revista hoje encontramos os elementos culturais da época, como os “enlatados” – termo que denominava pejorativamente os programas feitos pela "indústria cultural" veiculados massivamente em todo o mundo, a exemplo de séries televisivas. Maria cita várias séries exibidas naquele momento, como Homem invisível, Kojak e Planeta dos Macacos, bem como programas de auditório  e novelas brasileiras, num paralelo não muito preciso, mas assemelhado, a exemplo de Chacrinha, Moacir Franco, Sílvio Santos e a novela “coqueluche” do momento, Saramandaia. De quebra, Maria criticava a censura, que se impunha ao país. Embora algumas tiras pareçam ingênuas e o traço elementar, estava-se construindo nessa fase a personagem inflamada que ganharia os jornais diários do estado.


Ainda uma solteirona inveterada, Maria não abre mão da contestação

A Veneta número 2, que sai em 2016 apenas em versão digital, nunca chegou a ser impressa, sendo o projeto abandonado antes de se terminar a diagramação, como indica a capa, em que consta a apresentação das personagens Ôxente! e Vagabundo e que não figuram na edição. Nesta versão inacabada aparecem apenas algumas tiras de Maria e podemos deduzir as razões para que ela tenha ficado inconclusa.

A primeira razão era a limitação do formato, que embora econômico, impunha a reformulação das tiras, alterando a concepção original. Por outro lado, o nome da revista não dava o devido destaque à personagem Maria, que começava a marcar presença nos suplementos de quadrinhos dos jornais paraibanos. Outra razão é que as tiras de Maria tomavam outro rumo, mudando seu perfil inicial de solteirona em busca de marido para uma mulher politizada. Essa mutação fica bem clara nesse esboço de revista, que começa tratando da questão do divórcio em discussão no país no momento, mas sob a perspectiva da solteirona, e passa a abordar o cerceamento da liberdade de expressão, refletindo o contexto político ditatorial.

Certamente o projeto da revista Veneta foi abandonado para dar lugar à primeira série da revista Maria, que só começaria em maio de 1978 com a sátira ao filme "Dama do lotação". Com a nova revista a personagem assumiria definitivamente seu lado político e reflexivo, fruto do engajamento do autor no movimento estudantil universitário e em movimentos de defesa das minorias sociais. H. Magalhães

Veneta, 1
Henrique Magalhães
Paraíba, março de 1977, 20p. 10,5x15cm
<facsimile em pdf>

Veneta, 2
Henrique Magalhães
Paraíba, n. 2, 1977, inédita
<facsimile em pdf>

 

 

 

 

 


Segunda edição inédita de Veneta

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