Index - Edito - História - Autores - Personagens - Publicações - Grupos - Eventos  

O Memorial da História em Quadrinhos da Paraíba é um projeto de extensão e pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal da Paraíba

Edição:
Henrique Magalhães

Contato: henriquemais@gmail.com

Equipe editorial:
Paloma Diniz

Cobaloradores:
Cristovam Tadeu (detalhe de ilustração para o cabeçalho)

Criou-se em julho de 2013, com fluxo contínuo de atualizações.

   Publicações

Sanitário, n. 2

O que leva as pessoas a fazer revistas de quadrinhos? Não rende dinheiro (pelo menos não nos primeiros dez anos). Dá um trabalho enorme, é esnobado por alguns intelectuais, é ignorado pela imprensa... Bastariam estes sintomas para provar que as HQs são uma forma de arte pela arte, feita por gente que descobriu que 1) sabe fazer aquilo; e 2) gosta de fazer aquilo. E isto são condições necessárias e suficientes para fazê-lo.

Sanitário (revista HQ de Campina Grande – www.coletivowc.com.br) está cheia desse entusiasmo nos seus roteiristas e ilustradores. Humor, imaginação, uma dose do cinismo e da brutalidade que são “o Espírito do Tempo”, e com os quais temos de conviver, porque os tempos agora são assim. A revista lançou dois números temáticos: 1) “O Mundo Ainda não Acabou” e 2) “Grandes Monstros da Humanidade”. Alguns têm mais técnica; outros, têm idéias mais surpreendentes, mesmo que a técnica ainda seja na base da tentativa.

Em HQ, a idéia é essencial. A história tem que ter interesse, os personagens não podem ser apenas ilustrações do texto. Os diálogos têm que ser uma destilação e concentração do que seria dito, pra não perder tempo. Muitas vezes o cara tem isso, sabe fazer isso, mas não é um grande desenhista. A solução, ao meu ver, é transformar suas limitações em qualidades. Ao invés de tentar desenhar com A ou B, concentrar-se nas virtudes que tem (seja traço, seja enquadramento, seja textura, seja figurativismo bem resolvido... o que for).

No universo brasileiro da HQ, da tirinha, do cartum, existem grandes desenhistas, de técnica refinada: Laerte, Mike Deodato, Mutarelli, Shiko, Rafael Grampá, Fábio Moon & Gabriel Bá... Cada um desenha de um jeito totalmente diferente dos outros, mas todos tem o que em música a gente chama “domínio do instrumento”. Por outro lado, alguns dos melhores quadrinhistas atuais são pessoas que tecnicamente ninguém chamaria de grandes desenhistas: Bruno Maron, Alan Sieber, André Dahmer, além de mestres de uma geração anterior, como os falecidos Henfil e Glauco. Não têm “essas técnicas todas”, mas, por-cima-de-pau-e-pedra, cada um criou um estilo pessoal.

Estilo é a tensão entre o que a gente sabe fazer muito bem e o que a gente não consegue fazer de jeito nenhum. Um Henfil não tem a mesma técnica figurativa de um Laerte, mas isso não importa, porque ele é capaz de dizer tudo que quer usando aquilo que tem. Entre a rapaziada do Sanitário há quem domine a técnica “oficial”, há quem esteja inventando uma técnica própria, e há que esteja na encruzilhada entre as duas coisas. É a foto da nuvem, de um momento que não se repetirá, porque cada um irá numa direção diferente.

Braulio Tavares

Publicado originalmente no Jornal da Paraíba, em 23/10/2013

Postado no blog Mundo Fantasmo por Braulio Tavares. Quarta-feira, 23 de outubro de 2013. http://mundofantasmo.blogspot.com.br/2013/10/3324-sanitario-23102013.html

 

 

 

 


Sanitário
N. 2. Campina Grande, João Pessoa: Coletivo WC: 2013. 92p.
www.coletivowc.com.br

     Index - Edito - História - Autores - Personagens - Publicações - Grupos - Eventos